"I am human and I need to be loved, just like everybody else does"

sexta-feira, julho 08, 2005

Coisas que não tive coragem de te dizer

Eu sei que não tens culpa. Ninguém a tem. Se estivesse no teu lugar faria exactamente o mesmo. Se não gostasses de mim, se não te preocupasses, é que deixarias a situação andar... Mas custa tanto. Doi tanto. Mesmo sabendo que é o melhor para mim, não consigo deixar de querer que isto tivesse durado mais, apesar de saber que ia ser pior para mim mais tarde. Assusta-me um bocado a maneira como eu estou a sentir as coisas. Não estou bem, mas também não estou mal. Não chorei. Sei que me fazia bem, mas as lágrimas teimam em não cair, e sinceramente, nem eu quero isso... Apenas sábado, amanhã, quando vir que não vais chegar, que não vais estar a meu lado, vou ver que tudo acabou. Até lá, mesmo sabendo da situação, encaro isto como aqueles periodos em que não te via, devido a morarmos longe um do outro. Tenho vontade de voltar atrás, reviver tudo o que passamos. Quem diria que sábado passado seria o fim de tanta coisa... ou o inicio de outras tantas. Lembro-me. Relembro tudo, over and over again. Olho para as nossas fotografias. Lembro-me onde foram tiradas, lembro-me dos nossos gestos, do que senti na altura, de quem nos tirou a foto... lembro-me de risos, brincadeiras, periodos mais sérios. Lembro-me de ser feliz contigo. Sim, lembro-me bem disso...
A hora de deitar é o que me custa mais. Vem-me tudo á cabeça. É a unica altura do dia em que não posso ter o Hi-Fi com o volume elevadissimo. Durante o dia faço questão de, se não sair, ficar em casa a ouvir musica bem alto. Ela entra-me na cabeça e não me deixa espaço para mais nada, nem para pensar.
Deito-me por cima da cama e vejo tanta coisa. Olho para a janela, vejo as arvores, o céu, o cortinado que não pára sossegado devido á brisa. O ultimo dia que me lembro de ver a lua foi na madrugada de domingo. Desde ai nunca mais a vi, nem a ti...
Recordo-me do nosso ultimo beijo. Não queria que tivesse sido aquele. Foi um beijo rápido e mal dado, á pressa. Telefonei-te quando ja ias para casa, porque tinha-me esquecido da minha mala no teu carro. Tirei a mala e beijei-te rápidamente, pois estavas mal estacionado e o Gil tava a minha espera. Lembro-me de seguirmos. Lembro-me de tu passares por nós, e brincares, fingindo que estavas a competir com o Gil. Ias inclinado ao volante, a sorrir. Senti uma grande tristeza nesse momento, e não soube o porquê. Agora sei. Aquela ia ser a ultima vez que te ia ver, pelo menos como meu namorado. Nesse dia fiquei a dormir na casa do Musicologo como sabes. Antes de nos deitarmos ficamos a falar. Estava feliz, depois das cenas de sexta, tudo tinha ficado bem. Ao fim da tarde de domingo apanhei o bus. Senti-me triste outra vez. Era a parte do dia que eu mais gostava, o pôr do sol. Enquanto ia na ponte senti um vazio enorme. Não liguei na altura, mas hoje, pensando bem, eu já sabia o que ia acontecer. Acontece-me sempre isto quando uma relação está para acabar.
Imagens, acontecimentos, tudo explode na minha cabeça, tal como num video clip da MTV. O teu sorriso está sempre aqui, em conjunto com as recordações de tempos idos. O dia em que nos conhecemos, o primeiro dia em que saimos sós, o primeiro beijo, as nossas brincadeiras. Locais onde estivemos. Os nossos passeios, as nossas conversas. O teu olhar, a tua pele, o teu cheiro, o teu corpo. As nossas mãos unidas, a nossa respiração... Tu.
Aqueles momentos de silêncio, em que eu não falava nada. Nunca entendi bem se achavas que eu não falava porque não tinha nada para falar. Mas não era isso. Eram apenas momentos em que eu ficava a curtir a paz interior, a felicidade que sentia ao estar contigo.
Lembro-me agora do Arraial. Alguem lá do fundo chama-nos e grita: "Nunca se esqueçam do que sentem um pelo outro". Era um deconhecido, alguém que provavelmente estaria embriagado. Essas palavras marcaram-me muito, assim como o que passamos nesse local. Senti-me tão fraco, quando não te pude ajudar.
Neste sabado passado. Tu olhas-me nos olhos e dizes-me o que já tinhas dito, de outras formas. Aquele olhar, nesse momento. Acho que jamais o esquecerei. Pergunto-me porque o disseste, se não tinhas certezas de nada. Pergunto-me porque é que me pediste o que pediste á tarde, por mensagem. Eu pergunto-me, mas no fundo sei as respostas.
Preciso de tempo. Reorganizar a cabeça. Habituar-me á ideia que já não és o meu namorado, mas sim um amigo. Não sei como vou reagir quando te vir de novo. Não queria chorar, mas duvido que consiga. Espero, do fundo do meu coração, que consigas resolver a tua vida, decidir-te, ultrapassar o passado e seguir em frente. Também espero que fiquemos amigos, espero não, quero. Mas para isso vou precisar de algum tempo. A esperança é a ultima a morrer, e eu, secretamente, ainda espero por o dia em que os nossos lábios se tornem a tocar. É uma esperança parva, que apenas me vai iludir, vai-me fazer sofrer mais. Mas eu preciso dela agora. Preciso da força que ela me dá. Quero iludir-me mais um pouco, mesmo sabendo que isso me vai custar caro.

Eu entendo tudo o que fizeste, e o motivo porque o fizeste. Apenas doi. Doi muito. Mesmo sendo esta a melhor maneira.